O passeio foi muito rápido! Foram só duas noites, então o tempo foi curto para tudo o que eu queria fazer. Eu queria muito encontrar pelo menos um primo ou prima distante, ou um Mattioli que fosse. Primo ou prima, por enquanto... vamos combinar que já somos uma baita família e já temos primos o suficiente, né? Mas Mattioli, lá tem para todo lado!
Fomos de carro de Florença até Cerreto D'Esi. Logo antes de chegar na cidade a gente atravessa uma serra cheia de curvas, me lembrou um pouco a sensação de dirigir em Minas. Eu dirigi o tempo todo, e o Mickey, acostumado com essas estradas planas e monótonas do Leste do Canadá, nem acreditou que eu não pedi para trocar de lugar com ele.
Enfim, chegando em Cerreto, uma das primeiras coisas que vimos foi uma linda plantação de girassóis. Tem girassol plantado para todo lado, assim também como uva e azeitona. As casas mais afastadas do centro todas têm um pedaço de terra com alguma coisa plantada. Olhando as fotos, dá para ver o "tapete" de plantações que cobre as montanhas, e que me faz lembrar de Lavras.
A cidade (Comune) fica na Província de Ancona, na região de Marche. O nome da cidade é uma combinação entre o nome de uma árvore (Cerro, um tipo de carvalho) e o nome do Fiume Esino (Rio Esino), que flui na região. É uma cidadezinha de pouco mais de 4 mil habitantes, fundada em torno do século IX.
A Porta Giustiniana, a entrada do castelo |
Ficamos em um tipo de pousada, Il Sentiero degli Ailanti, que lá chamam de agriturismo, um tipo de hotel fazenda/chácara onde tudo é rústico mas muito confortável. Nossa experiência foi tão boa que no primeiro dia chegamos na pousada e nem quisemos sair de lá! Como é de costume nesses agriturismos, a dona da pousada, que é neta de uma Mattioli, diga-se de passagem, preparou com a mãe e o namorado macarrão feito na hora, lentilhas colhidas na própria fazenda, uma berinjela à parmegiana com berinjelas e tomates que eu mesma colhi na horta dela, vinho típico da região (garrafa a 4 Euros!!! Um vinho delicioso!!!), pães feitos em casa, salames e salaminhos de um amigo fazendeiro, salada com tudo fresquinho da horta... sem contar as sobremesas feitas em casa.
No quarto, os lençóis de linho e a mobília toda antiga. A toalha de mesa era bordada e tem pela casa várias peças antigas que foram usadas na decoração. Eu achei que ficar nesse lugar foi uma maneira muito especial de experimentar o que a região tem a oferecer, em termos de como a gente de lá é acolhedora, caprichosa, como eles valorizam a região, e também para aprender sobre os produtos que são feitos lá. Sem contar que há uma possibilidade de a dona da pousada ser uma prima distante! Se alguém se animar a ir conhecer, eu acho que vai ser uma viagem inesquecível!
No dia seguinte nos encontramos com duas pessoas que são de Cerreto, e que se ofereceram para mostrar a cidade para a gente. Fiz contato com essas duas através de uma professora da universidade daqui de Fredericton, que eu conheci há pouquíssimo tempo e que, por coincidência (coincidências acontecem?) é de Fabriano, uma cidade que fica a 15 minutos de Cerreto. Ela ficou sabendo que eu estava indo para lá e me deu o contato das amigas, que nos acolheram como se já nos conhecêssemos há séculos. Dá para perceber que eu estou encantada com o povo desse lugar? Aliás, uma delas também é uma possível prima, a mãe dela é Mattioli.
Elas começaram o tour nos levando ao escritório da prefeitura, onde ficam os registros de nascimento na cidade. Abrimos o livro do ano de 1884 e encontramos as informações sobre o vovô primo.
Registro de nascimento do vovô Primo |
O número 3 da Via Madonna delle Grazie |
A mesma casa, de outro ângulo |
Nessa rua, cada casa era de um Mattioli diferente |
Via Bargatano, 9 |
Um dos orgulhos da região são as Grotte di Frasassi, então fomos conferir. Grutas não são muito comuns na Itália, e essa é enorme, então vem gente de todo lugar para conhecer, e eles oferecem visitas em várias línguas. Parece muitíssimo com as grutas nos arredores de Belo Horizonte, como a de Maquiné e a da Lapinha. Mais uma vez, uma semelhança com uma região do Brasil onde parte da nossa família está.
Olhando a paisagem e pensando na vida, eu fiquei imaginando se alguém que o Francesco conhecia foi parar em Minas Gerais e escreveu uma carta contando que era uma região parecida com Marche. Será que foi coincidência ele ter achado um lugar tão parecido com a terra dele? Uma "Marche basileira"?
Procurando indícios das nossas origens em todo lugar, meu radar de semelhanças com o que eu sei do vovô Primo me fez tirar uma foto desses cestos. Fazer cestos é uma tradição em Cerreto. Vocês sabem de mais alguém que fazia cestos muito bem?
Inclusive, esses cestos estavam expostos em uma lanchonete onde nossa amiga nos levou para experimentar um lanche típico: crescia (pronuncia-se "créxia"). Mais alguém aí come "grecha"? Talvez alguém aí já soubesse disso, mas eu não. Em todos os 4 anos de trabalho em navio, tentei descobrir um lugar que vendesse grecha e nunca consegui nem me fazer entender em nunhum lugar da Itália onde eu fui. Agora descobri que a receita de "grecha", que eu sempre comi desde criança, porque a vovó Gilda sempre fez e que é receita da vovó Chiquinha, é uma variação dessa, que é tipo um sanduíche de massa de pizza. O nome é crescia, não grecha. Eles cortam o círculo em triângulos e recheiam com salame, salaminho, ou queijo. Agora também descobri que crescia pode ser um pão, feito em outras partes de Marche, mas esse eu não experimentei na viagem.
Bem, na nossa última noite, fomos jantar em um outro agriturismo, que fica em uma cidade vizinha chamada Matelica e que me disseram que é de uma família onde tem Mattioli também. Esse lugar é maior, tem piscina e um restaurante grande, mas é também rústico e serve uma comida deliciosa e farta... Como se como bem naquele país!
Vão aqui mais algumas fotos para mostrar o que vimos por lá!
A paisagem é super relaxante!
Monte San Vicino |
Símbolo antigo de uma família acima da porta da casa deles, do séc. XVII |
Nessa também! |
Nessa rua passa carro! |
Outras informações que eu ouvi aqui e ali foram, por exemplo, que em uma época foi muito comum as pessoas saírem de Cerreto por falta de trabalho. Foi muita gente para os EUA, Canadá e Brasil, Argentina... e em alguns casos teve gente que voltou para Cerreto depois de um tempo.
No início de setembro acontece em Cerreto a festa da uva, com uva nenhuma mas muito vinho e música!
Dentre os produtos mais conhecidos, provei os vinhos D.O.C. Lágrima (tinto) e um chamado Verdicchio di Matelica (branco). Os dois são uma delícia!
Videos que fizemos da viagem: